quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Sobre a Tabela do Bom Comportamento

Nossos comportamentos estão em constante interação com o meio e, a depender das consequências que se seguem a eles, dois efeitos podem ser observados: sua repetição ou diminuição.

Para que um comportamento se repita é necessário que a consequência seja reforçadora, ou seja, o indivíduo necessariamente obtém algum ganho. Esta consequência, por sua vez, pode ser natural, inerente à atividade realizada (um evento que ocorre espontaneamente após a emissão do comportamento), ou, arbitrária (um evento artificial que, naturalmente, não ocorreria após a emissão do comportamento). Por exemplo, quando a criança toma banho (comportamento), a consequência natural (que não foi planejada, nem introduzida artificialmente) é o “estar limpo”. Já quando os pais oferecem um prêmio para que esse comportamento ocorra, ele é considerado um reforçador arbitrário (pois foi mediado e programado).

Pelas próprias características dos reforçadores arbitrários, é natural que os pais questionem sobre o quão saudável é sua aplicação quando se deseja ensinar algo à criança. De fato, sua utilização exige cautela e deve ser bem aplicada. Atentando-se a isso, eles se tornam instrumentos favoráveis ao desempenho de bons comportamentos, na medida em que aumentam a probabilidade de ocorrência destes e, consequentemente, uma maior probabilidade de que fiquem sensíveis às suas consequências naturais.

A tabela do bom comportamento, instrumento que depende da utilização de reforçadores arbitrários, quando aplicada de maneira correta, adquire propriedades positivas que facilitam um aprendizado mais rápido e reforçador, de novos comportamentos, ao indivíduo. Por isso, torna-se uma ferramenta de auxílio quando a criança ainda não tem um repertório pleno das responsabilidades acerca das atividades que lhe cabem.

Como aplicar?
  • A elaboração e a aplicação da tabela exigem regras. Portanto, são necessárias disciplina e boa freqüência, para que não se passe à criança a ideia de que aquelas são inconsistentes e podem ser quebradas. E isso envolve não quebrar as regras existentes e não acrescentar novas, desproporcionais e descontextualizadas.
  • Na tabela devem estar descritos os comportamentos desejáveis. O intuito é ensinar à criança o que fazer, ao invés do “não fazer”
  • A cada vez que a criança conseguir realizar um comportamento descrito na tabela, ela ganha uma carinha feliz, um ponto ou um adesivo.
  • Ao fim do dia, tendo cumprido todos os comportamentos descritos, a criança deverá ter direito a um “brinde”.
  • É necessário manter a cadeia comportamental. Portanto, ao final da semana, se a criança tiver realizado todas as atividades propostas na tabela, ofereça-lhe um prêmio maior, como exemplo, um passeio.
O que é importante?

  • Esteja atento aos comportamentos registrados na tabela e às habilidades da criança em realizá-los. O ideal é que, inicialmente, a criança consiga, de fato, cumprir a tarefa para que ela receba as carinhas, pontos, ou adesivos. Na medida em que ela desempenha o que está acordado, aumenta-se, gradualmente, o nível de dificuldade. Lembre-se: se a criança, inicialmente, não tiver a oportunidade de receber as carinhas, pontos ou adesivos a tabela adquire propriedades aversivas e perde a sua função. Uma dica é introduzir um comportamento que a criança desempenha adequadamente, para que ela entre em contato com a contingência de recebimento das carinhas, pontos ou adesivos.
  • A tabela não deve ser utilizada para punir os comportamentos da criança, mas tão somente, para reforçá-los. Portanto, a criança não perde carinhas, pontos, ou adesivos. Atenção: ameaças à criança de que ela não ganhará as carinhas incutem um caráter aversivo e punitivo à tabela.
  • Caso a criança não realize um comportamento descrito na tabela, nada deve ser dito. Ela apenas deixará de ganhar a carinha, ponto, ou adesivo e, consequentemente, o “prêmio” ao final do dia e semana.
  • É necessário estar atento ao que é reforçador para a criança. Premiá-la com algo que não tenha um significado positivo para ela pode não funcionar. Muito embora esta escolha seja peculiar a cada uma delas, geralmente, os reforçadores mais poderosos envolvem momentos de interação com os pais. Portanto, ao estipular os prêmios, dê preferência a brincadeiras e momentos juntos (claro, observando sempre as necessidades e gostos da criança).
  • É importante observar também o estado de ânimo diário da criança. Fome, cansaço e sono interferem negativamente nos eventos ambientais. Nestas situações, consequências, até então reforçadoras, podem ter suas propriedades positivas diminuídas.
  • E nunca esqueça: elogios são sempre bem-vindos! Ao emiti-los, ressalte o desempenho e esforço da criança em se engajar na tarefa. Fazendo assim, você valoriza a responsabilidade, o empenho e diminui a probabilidade de que a criança estabeleça um padrão disfuncional de auto-cobrança.

Que tipos de incentivos posso utilizar?
  • Atividades: permitir que a criança faça alguma atividade que goste, por exemplo: jogar vídeo game por um determinado tempo, brincar com tinta, ler um livro na companhia dos pais, realizar uma brincadeira (também na companhia dos pais), assistir ao programa preferido de TV, tomar sorvete com a família ou amigos, etc. É bastante peculiar a cada criança.
  • Materiais: bombons, brinquedos, roupas, lanches especiais, etc. (devem ser moderados, para que o processo não se torne oneroso, ou que crie comportamentos disfuncionais).
  • Sociais (reforçadores que se equivalem aos elogios): abraços, beijos, contato visual positivo, sorrisos, bilhetinhos que valorizem o comportamento adequado, a companhia dos pais, diálogo.

Qualquer método que se utilize na educação das crianças deve ser sempre adequado às suas habilidades e potencialidades. E o melhor caminho para a realização, com maestria, é o da auto-observação, exercício da compreensão e conhecimento das variáveis ambientais que controlam o comportamento da criança. A adoção de práticas descontextualizadas pode adquirir um caráter aversivo e, consequentemente, interferir sobre o desenvolvimento saudável na infância.


Isabel C. L. Santos
Psicóloga Clínica
Mestre em Ciência do Comportamento
Atendimento Infantil e Orientação de pais
CRP 01/9481


Referências Bibliográficas:
Weber, L. (2009). Eduque com carinho: equilíbrio entre amor e limites – para pais. Editora Juruá: Curitiba.
Weber, L.; Salvador, A. P. & Brandenburg, O. (2011). Programa de qualidade na interação familiar: manual para aplicadores. Editora Juruá: Curitiba.

Fonte: http://infanciaecomportamento.blogspot.com.br/2015/06/sobre-tabela-do-bom-comportamento.html

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