quinta-feira, 16 de junho de 2016

A intervenção psicológica através da Estimulação Precoce

Muitas pessoas se questionam se a psicologia é capaz de atuar com crianças bem pequenas, como as recém-nascidas. O trabalho com a Estimulação Precoce nos coloca, além de outros profissionais, na linha de frente para ajudar os pequenos que por ventura enfrentam dificuldades com o seu desenvolvimento após o seu nascimento. 
Pelo fato das pessoas desconhecerem esse tipo de trabalho que eu acredito ser de bastante valia a matéria que trago hoje. A valorização da Estimulação Precoce se dá na oportunidade de conhecer os resultados positivos deste trabalho que tanto ajuda as crianças.
A falta de autonomia do bebê faz com que ele tenha de “pedir” pela satisfação de suas necessidades. Daí o choro, que deve ser entendido pelos adultos que o cercam como um pedido de amparo, isto é, reconhecido como linguagem, como demanda dirigida a eles.
Uma vez que o bebê é posto nesse circuito da demanda, passa a visar a mãe em primeira instância, em especial a forma como esta lhe responderá: uma sonda oral sacia a fome, mas não o satisfaz, pois ele precisa da presença materna, do olhar e da voz que acompanham a mamada no peito aconchegante. Cria-se uma demanda de amor a esse outro cuidador e uma dependência não apenas física, sobretudo de reconhecimento e identificação, que nos humanos não é natural como no reino animal.
Toda satisfação o bebê encontra no outro e não no mundo. A mãe, ao responder à demanda do filho, o faz com seu desejo: o modo como interpreta o choro e responde a ele reflete o que ela sente pela criança e o sentido que esta tem em sua vida. Portanto, também ela demanda a seu filho respostas a suas expectativas. Inaugura-se o movimento lógico e fundamental que insere a criança no mundo da cultura.
As trocas afetivas e simbólicas entre mãe e filho, que retiram o foco do organismo a fim de transferi-lo para a relação, iniciam-se assim que o bebê nasce, nas mamadas, nas trocas de fralda, nos banhos e nas atividades que a família dispensa a ele. Quando ocorre de um recém-nascido, prematuro ou não, precisar de uma UTI neonatal, submetendo-se às rotinas hospitalares, em que seu organismo é o principal foco de ação, é fundamental, do ponto de vista psíquico, que este não seja o único objeto de atenção. Esse bebê, submetido às medicações e aos procedimentos clínicos, deve ter assegurada a possibilidade de estabelecer o circuito da demanda com seus pais – primeiro passo para deixar de ser só um organismo e tornar-se um corpo desejado e futuramente desejante.
A psicologia intervém nos casos em que detecta, por meio de sinais na relação da criança com o ambiente e com os familiares, que o lugar do bebê no desejo dos pais e no estabelecimento do circuito da demanda está ameaçado. Qualquer que seja o motivo que o tenha levado à internação precoce, o psicólogo deve intervir na equipe, sobre os pais e familiares e sobre o bebê, visando sempre um ato ou uma fala, dos adultos que o cercam, capaz de dar a ele a possibilidade de iniciar sua constituição psíquica.
Ao profissional cabe se posicionar de forma a escutar o discurso familiar sobre a criança. Esse discurso que precede o nascimento dela é enunciado pelos pais e parentes. Ele deve interrogar sobre o lugar do bebê no desejo familiar, isto é, os efeitos que tal desejo tem sobre o corpo da criança. Se em geral não é tão claro para os pais como cuidarão do filho, em uma situação em que ele está fisicamente ameaçado é bem provável que haja de fato uma paralisação. Diante de si, só veem o horror e, nesse horror, o bebê. O que pode reverter tal situação é o desejo dos próprios pais de retirar a criança desse lugar, traçando um futuro para ela.
Com a equipe institucional, o trabalho do psicólogo deve ser de parceria e corresponsabilidade. A ele não cabe apenas se ocupar das urgências, como a agressividade ou a infelicidade de pais e familiares que por vezes perturbam a rotina médica. Mais que isso, deve discutir com estes, buscando intervenções comuns e complementares que visem a relação de cada criança com seus pais. Portanto, o bebê pode ser assistido pelo psicólogo de duas formas: indireta (via trabalho de escuta do discurso dos pais e da equipe sobre a criança) e direta (por meio de estimulação precoce). De uma maneira ou de outra, o profissional tem de assegurar à criança o modo particular e estrutural com que seu corpo figura no desejo dos pais e atentar para que as ações institucionais não recaiam apenas sobre seu organismo. 

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