Pelo fato das pessoas
desconhecerem esse tipo de trabalho que eu acredito ser de bastante valia a
matéria que trago hoje. A valorização da Estimulação Precoce se dá na
oportunidade de conhecer os resultados positivos deste trabalho que tanto ajuda
as crianças.
A falta de autonomia do
bebê faz com que ele tenha de “pedir” pela satisfação de suas necessidades. Daí
o choro, que deve ser entendido pelos adultos que o cercam como um pedido de amparo,
isto é, reconhecido como linguagem, como demanda dirigida a eles.
Uma vez que o bebê é posto
nesse circuito da demanda, passa a visar a mãe em primeira instância, em
especial a forma como esta lhe responderá: uma sonda oral sacia a fome, mas não
o satisfaz, pois ele precisa da presença materna, do olhar e da voz que
acompanham a mamada no peito aconchegante. Cria-se uma demanda de amor a esse
outro cuidador e uma dependência não apenas física, sobretudo de reconhecimento
e identificação, que nos humanos não é natural como no reino animal.
Toda satisfação o bebê
encontra no outro e não no mundo. A mãe, ao responder à demanda do filho, o faz
com seu desejo: o modo como interpreta o choro e responde a ele reflete o que
ela sente pela criança e o sentido que esta tem em sua vida. Portanto, também
ela demanda a seu filho respostas a suas expectativas. Inaugura-se o movimento
lógico e fundamental que insere a criança no mundo da cultura.
As trocas afetivas e
simbólicas entre mãe e filho, que retiram o foco do organismo a fim de
transferi-lo para a relação, iniciam-se assim que o bebê nasce, nas mamadas,
nas trocas de fralda, nos banhos e nas atividades que a família dispensa a ele.
Quando ocorre de um recém-nascido, prematuro ou não, precisar de uma UTI neonatal,
submetendo-se às rotinas hospitalares, em que seu organismo é o principal foco
de ação, é fundamental, do ponto de vista psíquico, que este não seja o único
objeto de atenção. Esse bebê, submetido às medicações e aos procedimentos
clínicos, deve ter assegurada a possibilidade de estabelecer o circuito da
demanda com seus pais – primeiro passo para deixar de ser só um organismo e
tornar-se um corpo desejado e futuramente desejante.
A psicologia intervém nos
casos em que detecta, por meio de sinais na relação da criança com o ambiente e
com os familiares, que o lugar do bebê no desejo dos pais e no estabelecimento
do circuito da demanda está ameaçado. Qualquer que seja o motivo que o tenha
levado à internação precoce, o psicólogo deve intervir na equipe, sobre os pais
e familiares e sobre o bebê, visando sempre um ato ou uma fala, dos adultos que
o cercam, capaz de dar a ele a possibilidade de iniciar sua constituição
psíquica.
Ao profissional cabe se
posicionar de forma a escutar o discurso familiar sobre a criança. Esse
discurso que precede o nascimento dela é enunciado pelos pais e parentes. Ele
deve interrogar sobre o lugar do bebê no desejo familiar, isto é, os efeitos
que tal desejo tem sobre o corpo da criança. Se em geral não é tão claro para
os pais como cuidarão do filho, em uma situação em que ele está fisicamente
ameaçado é bem provável que haja de fato uma paralisação. Diante de si, só veem
o horror e, nesse horror, o bebê. O que pode reverter tal situação é o desejo
dos próprios pais de retirar a criança desse lugar, traçando um futuro para
ela.
Com
a equipe institucional, o trabalho do psicólogo deve ser de parceria e
corresponsabilidade. A ele não cabe apenas se ocupar das urgências, como a
agressividade ou a infelicidade de pais e familiares que por vezes perturbam a
rotina médica. Mais que isso, deve discutir com estes, buscando intervenções
comuns e complementares que visem a relação de cada criança com seus pais.
Portanto, o bebê pode ser assistido pelo psicólogo de duas formas: indireta
(via trabalho de escuta do discurso dos pais e da equipe sobre a criança) e
direta (por meio de estimulação precoce). De uma maneira ou de outra, o
profissional tem de assegurar à criança o modo particular e estrutural com que
seu corpo figura no desejo dos pais e atentar para que as ações institucionais
não recaiam apenas sobre seu organismo.
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