Dano
mental permanente é igual nos dois tipos de maus-tratos, afirma pesquisa.
Estudo foi feito com sobreviventes das guerras civis na ex-Iugoslávia.
A
tortura psicológica, incluindo técnicas utilizadas pelos Estados Unidos no
Iraque e em sua base de Guantánamo, em Cuba, provoca o mesmo tipo de dano
mental a longo prazo que o abuso físico, revela um estudo divulgado nesta
segunda-feira (5), que questiona as intenções do governo americano de atenuar a
definição de tortura.
Pesquisadores
que avaliaram a saúde mental de soldados e civis torturados durante as guerras
dos Bálcãs na década de 90 descobriram que as vítimas de abuso psicológico
tinham a mesma probabilidade de sofrer de transtornos de estresse pós-traumático
e depressão que as vítimas de tortura física.
Segundo
os cientistas, as vítimas de tortura consideraram técnicas como posições
físicas tensas, isolamento, olhos vendados e privação de sono tão angustiantes
quanto a maioria dos métodos de tortura física.
“Os
maus-tratos durante o cativeiro, como manipulações psicológicas, tratamento
humilhante e posições tensas forçadas, não parecem diferir substancialmente da
tortura física quanto à gravidade do sofrimento mental que geram”, ressaltaram
os autores do estudo.
“Logo,
estes procedimentos equivalem a tortura e nos levam a respaldar sua proibição
internacional”, acrescentaram os cientistas na revista científica “Archives of
General Psychiatry”.
Os pesquisadores disseram que sua descoberta contraria as intenções do
governo americano de atenuar a definição de tortura para habilitar
interrogadores a usar métodos psicológicos que visem a vencer a resistência do
prisioneiro.
Em 2003, advogados do
Departamento de Justiça americano e um boletim de um grupo de trabalho do
Pentágono sobre os interrogatórios defenderam uma definição mais restrita de
tortura que exclui procedimentos como vendar os olhos ou encapuzar os
prisioneiros, obrigá-los a permanecer nus ou isolados, entre outras
manipulações psicológicas.
O memorando do Departamento de
Justiça argumentou que o uso do termo tortura deveria ser limitado a atos que
gerem um “dano mental prolongado”, segundo o estudo.
Essa posição foi defendida após
as acusações de abuso de direitos humanos dos detidos nas instalações americanas
no Iraque, no Afeganistão e na base de Guantánamo, em Cuba.
Os autores do estudo apontaram
que sua análise das experiências de 279 bósnios, croatas e sérvios
sobreviventes de torturas demonstraram que os indivíduos que sofreram abuso
psicológico têm as mesmas taxas de depressão, transtorno de estresse
pós-traumático e problemas sociais ou profissionais que aqueles que foram
espancados, queimados, abusados sexualmente ou foram castigados fisicamente de
outras formas.
O motivo sugerido para o efeito
ser o mesmo é que esse tipo de agressão tem como objetivo gerar medo e
ansiedade na vítima, tirando seu controle com o intuito de criar um estado
total falta de defesa.
“A distinção entre tortura e
tratamento degradante é não apenas inútil. É também perigosa”, disse Steven
Miles, professor de bioética da Universidade de Minnesota, em um editorial na
“Archives of General Psychiatry”. O estudo foi realizado por Metin Basoglu,
chefe de estudos traumáticos no Instituto de Psiquiatria do King’s College de
Londres, em parceira com colegas do Departamento de Psiquiatria do Hospital
Clínico Zvezdara, em Belgrado.
Fonte: Psiconlinews
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