quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Emoções de fundo refletem a relação mente e corpo



Talvez você nunca tenha ouvido falar em emoções de fundo, mas com certeza já deve ter sentido. Segundo Antonio R. Damásio, neurocientista, “certas condições de estado interno engendradas por processos físicos contínuos ou por interações do organismo com o meio, ou ainda por ambas as coisas, causam reações que constituem emoções de fundo”.

Quando dizemos que estamos tensos, cansados, com energia ou vitalidade estamos nos referindo às emoções de fundo, que muitas vezes são difíceis de serem identificadas por se constituírem um estado contínuo na pessoa e fazerem parte do mundo interno e não externo. Então, as emoções de fundo se originam  a partir dos próprios estados internos do organismo. assim, como esses estados são contínuos, as próprias emoções de fundo se tornam também contínuas.

As emoções de fundo estão relacionadas com níveis mais profundos de consciência. Esses níveis estão profundamente arraigados aos estados internos do organismo, eles se referem à qualidade do equilíbrio do próprio organismo. Sendo assim, podemos falar que este tipo de emoção constitui-se a mais próxima de uma “identidade emocional”. A mudança destes estados sobrevive, segundo Damásio, até mesmo à doenças neurológicas.



Os pacientes com mal de Alzheimer, por exemplo, os familiares de alguns deles dizem que as pessoas, mesmo com a doença, mantém o estado de espírito, ou seja, se são calmas, tendem a ficar calmas. As mudanças no estado de humor, em geral, associam-se ao agravamento da doença, momento em que os núcleos do cérebro responsáveis pela manutenção dos estados internos começam a ser profundamente afetados.

As emoções de fundo são, portanto, um excelente objeto de estudo – embora tenham sido pouco estudados – sobre a relação entre mente e corpo. Mais precisamente falando, podemos dizer que, uma vez que estas emoções falam sobre o estado do corpo, elas nos revelam quem a pessoa é em termos biológicos. A dificuldade no trabalho com estas emoções é que determinar o que as ativa exige um alto nível de conhecimento interno nem sempre possuído pelas pessoas.

Porém, embora difíceis de serem estudadas, essas emoções também são extremamente importantes por funcionarem como um “pano de fundo” no qual outras emoções ocorrem. Não é difícil de compreender: um dia em que você está fadigado por ter tido uma péssima noite de sono é muito diferente do que um dia em que você teve uma ótima noite de sono e acordou com “bom humor”. As emoções de fundo vão um pouco além, é como se elas falassem não apenas da noite mal dormida, mas como o seu corpo está depois de uma noite mal dormida.

Pessoas depressivas, por exemplo, relatam sensações de fadiga e cansaço, além de dores durante muito tempo. Compreender que estas sensações perceptíveis no corpo, na fala, na qualidade da “energia” da pessoa não são apenas fenômenos psíquicos, mas também biológicos é fundamental para, por exemplo, realizar uma terapia. As emoções de fundo nos fazem refletir, de uma maneira muito forte, sobre o trabalho com o corpo “propriamente dito”, no sentido de influenciar a sua dinâmica interna e estes estados afetivos que estão tão arraigados no indivíduo.

O trabalho com a identidade vai além do exercício psíquico pois a própria personalidade repousa sobre um fenômeno biológico que precisa ser levado em conta. Há mais na psique do que ela própria, seu substrato corporal precisa ser integrado e o estudo das emoções de fundo é uma perspectiva interessante para este estudo.

Fonte: www.psiconlinews.com

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