quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

UM LIVRO QUE FUNCIONA COMO GUIA PARA ENTENDER AS ATITUDES DAS CRIANÇAS.


Angústia e desespero são sentimentos vivenciados por pais que não conseguem compreender as atitudes dos filhos. O Livro de Cristina Valente, "O que se passa na cabeça do seu filho", ensina a lidar com a situação


Elas fazem birras, fingem que não ouvem, respondem mal, recusam-se a ir para a cama, mentem, ficam em silêncio, isolam-se; o por quê? Julgamos ser muita coisa. Mas o certo é que o que se passa na cabeça dos filhos é um mistério para muitos pais. Partindo de um dos maiores desafios da educação, que é entender e descodificar as atitudes dos mais novos, a psicóloga Cristina Valente lançou recentemente um guia para "entender os comportamentos de oposição, decifrar silêncios e aprender a comunicar" com crianças e adolescentes.

Entre os comportamentos de oposição que mais aborrecem os pais, a psicóloga destaca três: "O responder torto, fingir que não ouvem e mentirem." Geralmente, são entendidos como "maus comportamentos", mas devem ser vistos como "pedidos de ajuda" e "sinais de que alguma coisa não corre bem", pois as crianças sabem o que sentem, mas nem sempre conseguem comunicá-lo. Configura-se, então, em uma falha na comunicação entre pais e filhos."

No livro, a psicóloga identifica os comportamentos que os pais veem, o que pensam que é, o que na verdade é e o que podem fazer. A mentira, por exemplo, é vista como "um traço de personalidade" que pode transformar a criança num "mentiroso compulsivo." Contudo, ela explica que, "as mentiras fazem parte do desenvolvimento da criança", sendo que, na maioria das vezes, é um comportamento que superam. Podem mentir porque confundem a imaginação com a realidade ou para evitar um castigo. "Muitas vezes são ditas porque os miúdos têm medo das consequências", refere. Por isso, Cristina Valente considera importante que os pais percebam a razão pela qual o filho está mentindo.

Os castigos funcionam?

Cristina Valente defende que não. "A punição física, psicológica e emocional foi desde sempre usada para controlar os comportamentos dos animais e humanos. O problema é quando são usadas como ferramenta educativa", justifica. Ela é completamente contra qualquer castigo, pois considera que será mais interessante adotar um sistema de consequências. Por exemplo, se a criança não quer jantar, não vai ser proibida de ver televisão. "Não lhe será dada mais comida até à próxima refeição." Isso deve ser explicado como uma consequência da sua escolha, não como um castigo.

As idades mais complicadas para se perceber o que se passa na cabeça das crianças são a das birras e da adolescência. Na primeira, "as crianças não têm as competências em termos cerebrais que achamos que têm. Aos três anos, não percebem as relações causa-efeito." Já na adolescência, existem mudanças profundas no desenvolvimento do cérebro. "Existe grande queda para novas experiências, agressividade nas respostas e comportamentos, mudanças de humor, arrogâncias." Os pais "devem compreender as mudanças profundas para não reagirem da pior forma."

No capítulo "Ele está sempre triste e insatisfeito", Cristina Valente aborda as causas mais diretas da infelicidade na criança. Na extensa lista surgem, por exemplo, "pais autoritários ou permissivos, divórcio ou separação dos pais, morte ou doença de familiar ou amigo, privação crónica do sono, alimentação pobre em nutrientes, uso excessivo de televisão ou jogos de computador, evento ou cena traumática, perda de um brinquedo favorito ou animal de estimação." Mas também pode causar tristeza o nascimento de um irmão, a ansiedade dos pais, uma professora ansiosa ou deprimida, bullying.

O amor é, segundo a autora, a chave para criar crianças felizes. "Não tente fazer a sua criança feliz", pois ao sentir que é responsável pelas suas emoções, não vai deixar o seu filho "sentir fúria, tristeza ou frustração." Por outro lado, "alimente as ligações emocionais, saiba elogiar pelas razões certas, dê espaço para o sucesso mas também para o falhanço, dê responsabilidades práticas, ensine a praticar a gratidão". Uma das razões da tristeza e dos silêncios é o facto de as crianças estarem cada vez mais sujeitas a pressão dos pais. "Querem filhos perfeitos, bonitos, que cumpram o ideal de uma criança de sucesso." Perceber que não corresponde às expectativas pode ser frustrante para a criança.

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