Na Grécia antiga, berço da filosofia, Heráclito
afirmava metaforicamente que nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio. O
existir é um perpétuo mudar, um constante fluir. Já Parmênides de Eleia, povo
pioneiro no uso da dialética, contestava-o afirmando que o ser é único, eterno,
imutável, imóvel e infinito. Ele dividia o mundo em sensível, aquele que
conhecemos pelos sentidos, e inteligível, mundo que não vemos e não tocamos,
mas compreendemos. John Locke argumentava que a identidade do ser, não era definida
por características físicas, mas sim por repetida auto-identificação. Logo, a
memória torna-se essencial na construção do ser. O que aconteceria caso o homem
pudesse manipulá-la, de forma a aniquilar elementos que o fizeram tornar-se
quem ele é? Apagar da mente aqueles eventos que ajudaram a construir sua
personalidade, afetaria a forma como o ser lidaria com o seu habitat? O filme,
dirigido por Michael Gondry, abre esta importante discussão, contando a
história do casal Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet). Após anos
sentindo-se insatisfeita com os rumos do relacionamento, ela age impulsivamente
e aceita participar de um tratamento que irá fazê-la “cirurgicamente” esquecer
completamente de seu namorado. Indignado, Joel decide fazer o mesmo, porém
acaba percebendo o valor da preservação daqueles momentos. Ele lutará até o fim
para manter suas recordações, mesmo aquelas que lhe causam sofrimento, pois
também ajudaram a construir o homem que ele se tornou. O roteiro brilhante de
Charlie Kaufman nos induz a questionar a nossa frágil psique, com a angústia de
alguém em lidar com a indiferença do outro. Apaga-se a memória, porém ele ainda
existe.
Fonte: www.conteoutra.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário