Um grupo de psicólogos
de Uberlândia (MG) criou o "Janeiro Branco", uma campanha que
aproveita o momento de reflexão e estimula as pessoas a pensarem sobre o destino
de suas vidas, valorizando as emoções e dando espaço legítimo a elas.
Como os números de dependentes químicos, pessoas com depressão e ansiedade têm
aumentado bastante, essa campanha alerta para a prevenção de transtornos e
busca promover a chamada "psicoeducação", que privilegia a saúde
mental e auxilia as pessoas a se observarem, a respeitar os outros e a
desenvolver relações humanas mais saudáveis - uma questão de necessidade e
saúde pública. A escolha da cor branca como símbolo é justamente uma forma de
incentivar a criação de uma cultura nacional de valorização da subjetividade
humana, de forma que possamos combater estereótipos que ainda cercam e
prejudicam a saúde mental. Os exemplos são muitos: gordofobia, homofobia,
preconceito racial, religioso...
Como se sabe, ao
contrário do que acontece por exemplo com um tratamento estético, muita gente
só procura um psiquiatra depois de muito tempo de sofrimento. Quando alguém vai
a uma clínica estética, essa pessoa tende a compartilhar com os amigos, comentar
nas redes sociais, contar para a família. Mas quando alguém sente que a energia
e a disposição baixaram e já não são as mesmas, até para evitar preconceitos e
julgamentos, o "negócio" é esconder o máximo possível. Quando
sentimos alguma limitação na visão, procuramos um oftalmologista, quando temos
febre, vamos ao clínico, mas nem sempre a mesma lógica se aplica ao dia a dia
na saúde mental. Para muitos, a premissa "não estou bem, vou ao
médico", não vale para a psiquiatria. Persiste ainda a ideia de que quando
se trata da nossa vida emocional, temos a obrigação de "dar conta
sozinhos", uma vez que a procura pelo psiquiatra ainda é vista como um
sintoma de fracasso emocional - resultado da incapacidade de "dar um jeito
de ficar bem por conta própria".
E quando finalmente
as pessoas quebram esses preconceitos e reconhecem que precisam de ajuda, elas
chegam ao consultório trazendo no rosto um sofrimento que persiste há muito
tempo, associado a um misto de vergonha e até de resistência em se abrir sobre
o que realmente se passa.
Parte da
responsabilidade do psiquiatra é explicar a este paciente que os transtornos
psiquiátricos existem e são tratáveis. É importante deixar claro que o papel
desse especialista é atuar no sentido de restaurar o equilíbrio emocional,
melhorar a qualidade de vida e apontar caminhos.
Janeiro Branco faz
parte de um contexto de falar abertamente sobre nossos medos, frustrações,
desejos, sentimentos, angústias, sonhos e planos. É possível construir uma
agenda por meio da qual o preconceito e a discriminação que cercam os
transtornos mentais se tornem menos frequentes.
*Artigo assinado pelo psiquiatra Leonardo Maranhão, autor do livro "A vida com ...autismo" e diretor da Clínica Médica Assis.
Website:https://www.terra.com.br/noticias/dino/janeiro-branco-cuidar-da-mente-e-cuidar-da-vida,db0453900f1434c0baa37d274607cca6gkdrsyiy.html
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