O
processo de envelhecimento caracteriza-se pelo declínio das funções biológicas
que ocorrem por múltiplos factores. Por isso, observa-se nesta fase da vida a
ocorrência de vários transtornos mentais.
A velhice caracteriza-se por uma deterioração progressiva dos vários
tecidos e de todo o organismo, o que costuma provocar a diminuição da
capacidade cardio-respiratória, da força muscular, da resistência dos ossos e
da flexibilidade das articulações. Trata-se, portanto, de uma nova fase da
vida, um período normal do ciclo vital com algumas mudanças físicas, mentais e
psicológicas que não significam necessariamente a existência de doença.
No entanto, com o processo de envelhecimento chega a diminuição das faculdades - físicas e mentais - que facilita o aparecimento de transtornos mentais, muitos deles evitáveis, aliviados ou mesmo revertidos.
Para além dos factores biológicos inerentes a este processo, existem
outros que predispõem os idosos a transtornos mentais. Como sejam, a perda de
autonomia, a morte de amigos e/ou parentes, isolamento social, restrições
financeiras, agravamento do estado geral de saúde com especial relevância para
o funcionamento cognitivo (capacidade de compreender e pensar de uma forma
lógica, com prejuízo na memória).
Transtornos psiquiátricos mais comuns
Demência
A demência é um problema mental grave, provocado por vários tipos de
lesões no cérebro, que afecta essencialmente os idosos, perturbando todas as
funções intelectuais e evoluindo de forma progressiva.
A demência é provocada por lesões nas áreas cortical e subcortical do
cérebro, onde residem as funções intelectuais superiores, como a consciência, a
elaboração da linguagem, a automatização dos movimentos, a memória e a
aprendizagem. Como estas lesões podem ser, de acordo com as suas
características, originadas por diferentes situações, existem vários tipos de
demência.
As manifestações são bastante diferentes, pois dependem da localização
das lesões. A manifestação inicial mais frequente é a perda de memória. Outras
manifestações comuns são a dificuldade em realizar movimentos automatizados -
pentear-se, barbear-se, limpar-se, vestir-se ou comer - para além de alguma
instabilidade emocional e alterações progressivas da linguagem.
Demência
tipo Alzheimer
Trata-se do tipo de demência mais comum, sendo que é mais frequente nas
mulheres do que nos homens. Caracteriza-se por um início gradual e pelo
declínio progressivo das funções cognitivas. A memória é a função cognitiva
mais afectada, mas a linguagem e noção de orientação do indivíduo também são
afectadas.
As
alterações do comportamento envolvem depressão, obsessão e desconfianças, surtos de raiva com risco de actos violentos. A
desorientação leva a pessoa a andar sem rumo podendo ser encontrada longe de
casa em uma condição de total confusão. Aparecem também alterações neurológicas
como problemas na marcha, na fala, no desempenhar uma função motora e na
compreensão do que lhe é falado.
Demência vascular
É o segundo tipo mais comum de demência. Apresenta as mesmas
características da demência tipo Alzheimer mas com um início abrupto e um curso
gradualmente deteriorante. Pode ser prevenida através da redução de factores de
risco como hipertensão, diabetes, tabagismo e arritmias.
Esquizofrenia e
outras psicoses
Apesar de estas doenças ocorrerem com mais frequência no final da
adolescência ou idade adulta jovem, elas persistem para toda a vida. Os
sintomas incluem isolamento social, comportamento excêntrico, pensamento
ilógico, alucinações e afecto rígido.
Transtornos depressivos
Os transtornos depressivos têm alta prevalência entre a população idosa
e estão associados a um impacto negativo em seu estado de saúde e qualidade de
vida. As alterações sociais - diminuição da actividade, perda de entes
próximos, etc. - que ocorrem nesta fase da vida estão associados ao
desenvolvimento de depressão.
Os sintomas incluem diminuição da concentração e memória, problemas de
sono, diminuição do apetite, perda de peso e queixas somáticas (como dores pelo
corpo).
Transtorno
bipolar (do humor)
O transtorno bipolar do humor é uma doença do foro psíquico que tem cada
vez mais expressão na população em geral. Caracteriza-se por desequilíbrios no
humor, uma entidade maleável que se modifica de acordo com os acontecimentos da
vida. Quando ocorre um transtorno do humor significa que a pessoa está a reagir
de modo incompatível ou exagerado a determinada situação. Esse desequilíbrio no
humor tanto pode ser positivo (estado maníaco) como negativo (estado
depressivo).
Os sintomas deste transtorno nos idosos são semelhantes aos dos adultos
mais jovens e incluem euforia, humor expansivo e irritável, necessidade de sono
diminuída, fácil distracção, impulsividade e, frequentemente, consumo excessivo
de álcool. Pode ainda haver um comportamento hostil e desconfiado. Quando um
primeiro episódio de comportamento maníaco ocorre após os 65 anos, deve-se
alertar para uma causa orgânica associada.
Transtorno delirante
Trata-se de um transtorno onde as ideias surgem com convicção absoluta
em si mesmas, sem qualquer derivação da cultura, das crenças e das convicções
do indivíduo. Habitualmente, a idade de início deste transtorno ocorre por
volta da meia-idade mas também pode ocorrer em idosos.
Os sintomas mais comuns são alterações do pensamento de natureza
persecutória (os doentes acreditam que estão a ser seguidos), e em relação ao
corpo, como acreditar que tem uma doença fatal (hipocondria). Os doentes podem
ainda tornar-se violentos e isolarem-se socialmente.
As alterações do pensamento podem acompanhar outras doenças
psiquiátricas que devem ser descartadas como demência tipo Alzheimer,
transtornos por uso de álcool, esquizofrenia, transtornos depressivos e
transtorno bipolar.
Transtornos
de ansiedade
A ansiedade é um sentimento incomodativo, disperso e indefinido, que
pode ser acompanhado de sensações como um frio no estômago, aperto no peito,
tremores e até falta de ar. Na maioria dos casos, é uma reacção normal ao stress do
dia-a-dia, pois é a forma como o corpo humano o enfrenta. Portanto, as reacções
de ansiedade normais não precisam de ser tratadas uma vez que elas são naturais
e esperadas. No entanto, quando a ansiedade se transforma num medo irracional
excessivo, pânico e desenvolvimento de fobias, ela passa a ser patológica e
transforma-se num transtorno incapacitante, conhecido como transtorno de
ansiedade.
Nos idosos a fragilidade do sistema nervoso autónomo pode explicar o
desenvolvimento deste tipo de transtorno. Os
principais sintomas são a dificuldade de concentração, desorientação e perda de
memória, dores musculares, dores de cabeça e falta de ar,
transpiração excessiva, fadiga, irritabilidade e tensão muscular, insónias e
perturbações no sono.
Transtornos somatoformes
Este tipo de transtorno caracteriza-se por incluir sintomas físicos (por
exemplo dores, náuseas e
tonturas) para os quais não pode ser encontrada uma explicação médica adequada e que são suficientemente sérios para
causarem um sofrimento emocional ou prejuízo significativo à capacidade do
doente para funcionar em papéis sociais e ocupacionais.
Os factores psicológicos contribuem para o início, para a severidade e a
duração dos sintomas.
Transtornos por uso de álcool e outras substâncias
Frequentemente
os idosos podem iniciar um quadro de dependência álcoolica ou a
medicamentos devido à automedicação. Por exemplo, tornar habitual beber
uma dose de álcool todos os dias para relaxar, ou
aliviar uma situação de maior ansiedade com a toma de medicamentos sedativos.
No entanto, a dependência de álcool, geralmente, apresenta uma história
de consumo excessivo que começou na idade adulta e frequentemente está
associada a uma doença médica, principalmente doença hepática. Além disso, a
dependência ao álcool está claramente associada a uma maior incidência de
quadros demenciais.
Já a dependência de substâncias como hipnóticos, ansiolíticos e
narcóticos é comum no idosos para o alívio da ansiedade crónica ou para
garantirem uma noite de sono.
Fonte: Abcdasaude.com
Nota: As informações e conselhos disponibilizados no Atlas da Saúde não
substituem o parecer/opinião do seu Médico e/ou Farmacêutico.
Foto: ShutterStock