A
vontade nasce em mim mas volta-se para algo fora de mim.
Posso conhecer as minhas
vontades através das manifestações do meu corpo. Neste sentido, a vontade é
consciente e a razão deverá encontrar os caminhos nos quais a vontade há de se
realizar.
Já o desejo é do domínio
inconsciente, é algo que me tomou, inevitável de sentir. Trata-se de algo
construído nos meus vínculos afetivos e relações com o outro. Seja feita ou não
a nossa vontade, o desejo permanece em nós. O limite para realizar nosso desejo
é o desejo do outro.
As leis, proibições e regras
sociais podem impedir a realização de um desejo visando preservar o bem comum,
embora não possam impedir a manifestação das fantasias em torno deste desejo,
ainda que ele não se torne realidade.
Se existe uma proibição é
porque existe um desejo.
Freud acreditava que a
realização do desejo está presente em nossos sonhos e em nossos sintomas, por
exemplo. A vontade pode ser satisfeita, mas o desejo não. Somos seres
desejantes e o desejo é o que nos move. Portanto, tão logo um desejo se realiza
surgem novos desejos.
Daí decorre o
conflito “você quer o que deseja?”.
Muitas vezes agimos contra a nossa vontade para
satisfazer um desejo ( que pode ser um capricho, um impulso destrutivo ou algo
que não podemos controlar racionalmente).
Com isso, podemos pensar que os valores do sistema
capitalista em que vivemos podem, em certa medida, “sequestrar” o nosso desejo
fazendo que para ser aceito, reconhecido e desejado pelo outro, precisamos
consumir e exibir determinadas coisas apenas Re-agindo aos estímulos externos e
não Agindo de acordo com a nossa vontade.
A nossa verdadeira vontade pode estar submersa a
desejos reprimidos e inconscientes.
Portanto, a nível inconsciente só sabemos desejar,
ao passo que, tomando consciência do nosso desejo podemos escolher o que
realizar, tornando-nos “sujeito do desejo” e fazendo a nossa vontade vir à
tona.
Contudo, a consciência da nossa interioridade e dos
nossos desejos só pode ser alcançada no contato com o outro, com outra
interioridade. A psicoterapia é uma oportunidade para alcançarmos uma melhor
compreensão sobre nós mesmos e sobre nossos desejos, e para nos fortalecer e
nos permitir realizar as nossas vontades sem culpa.
Imagem de capa: Shutterstock/Jozef Klopacka
Fonte:
Psicologias do Brasil
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