Por Krishnamurti
Muitos filósofos têm escrito
sobre a liberdade.
Falamos sobre liberdade —
liberdade para fazer o que quisermos, para ter o emprego de que gostamos,
liberdade para escolher uma mulher ou um homem, liberdade para ler qualquer
livro, ou liberdade para não ler absolutamente nada. Somos livres, e o que fazemos
com essa liberdade? Usamos essa liberdade para nos expressarmos, para fazer
aquilo de que gostamos. A vida está se tornando cada vez mais permissiva — você
pode fazer amor no parque ou no jardim. Temos toda espécie de liberdade, e o
que temos feito com ela? Pensamos que onde há escolha há liberdade.
Eu posso ir à Itália ou à França:
é uma escolha. Mas a escolha dá liberdade? Por que temos que escolher? Se você
é realmente lúcido, tem uma compreensão exata das coisas, não há escolha. Disso
resulta uma ação correta. Apenas quando há dúvida e incerteza é que começamos a
escolher. A escolha, então, se vocês me permitem dizê-lo, constitui um
empecilho para a liberdade. Nos estados totalitários não há liberdade alguma,
pois eles têm a idéia de que a liberdade produz a degeneração do homem.
Portanto, eles controlam, reprimem — vocês sabem o que está acontecendo.
Então, o que é liberdade? É algo
que se baseia na escolha? É fazer exatamente o que queremos? Alguns psicólogos
dizem que, se você sente alguma coisa, não deve reprimi-la ou controlá-la, mas
deve expressá-la imediatamente. Jogar bombas é liberdade? — veja apenas a que
reduzimos a nossa liberdade! A liberdade está lá fora, ou aqui dentro? Onde
você começa a procurar pela liberdade? No mundo exterior — onde você expressa o
que quer que você queira, a tal liberdade individual — ou a liberdade começa
dentro de você, para então se expressar inteligentemente fora de você?
Compreendeu a minha pergunta?
A liberdade só existe quando não
há confusão dentro de mim, quando, psicologicamente, religiosamente, não há o
perigo de eu cair em nenhuma armadilha — você entende? As armadilhas são
inúmeras: gurus, sábios, pregadores, livros excelentes, psicólogos e
psiquiatras — tudo armadilhas. E se estou confuso e há desordem, não preciso,
primeiro, me livrar dessa desordem antes de falar em liberdade? Se não tenho
nenhum relacionamento com minha mulher, com meu marido, ou com outra pessoa —
porque nossos relacionamentos são baseados em imagens — surge o conflito, que é
inevitável onde há divisão. Então, não deveria eu começar por aqui, dentro de
mim, na minha mente, no meu coração, a ser totalmente livre de todos os medos,
ansiedades, desesperos, e das mágoas e feridas de que sofremos por causa de
alguma desordem psíquica?
Observe tudo por si mesmo e
livre-se disso! Mas, aparentemente, nós não temos energia. Nós nos dirigimos
aos outros para que nos dêem energia. Falando com o psiquiatra nós nos sentimos
aliviados — a confissão e tudo o mais. Sempre dependendo de alguma outra pessoa.
E essa dependência, inevitavelmente, causa conflito e desordem.
Então, temos de começar a
compreender a profundeza da liberdade; precisamos começar com aquilo que está
mais perto: nós mesmos. A grandeza da liberdade, a verdadeira liberdade, a
dignidade, a sua beleza, está em nós mesmos quando a ordem é completa. E essa
ordem só vem quando somos uma luz para nós mesmos.
Fonte: Psicologias do
Brasil
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